De 12 a 16 de julho, o Centro Cultural São Paulo recebeu a 52ª edição da Casa de Criadores. Com foco em criações autorais de jovens talentos, a semana de moda reuniu 48 desfiles. Entre os destaques, estão a ancestralidade baiana da Soujê, o sertanejo da Ken-gá, a resistência indígena da Nalimo, o apelo sexual e intimista da Alexei, as referências religiosas e afetivas da Jacobina, a dualidade performática na passarela de Rober Dognani e a incerteza do futuro na Projeto Mottainai.
Soujê
Pela primeira vez na Casa de Criadores, a Soujê realizou a abertura de desfiles da temporada. A marca baiana tem o afrofuturismo no DNA criativo. Na apresentação, reuniu as coleções Meu Axé, Cria, 4:20, Nego Neon x Ancestrais.
Na passarela, com cartela ampla de cores, apareceram tons vibrantes de amarelo, vermelho e rosa, entre outros. Texturas variadas compõem as modelagens das peças com toque artístico. Na composição, estão tecidos recicláveis, retalhos e estampas pintadas à mão.
Ken-gá
A Ken-gá agitou a 52ª Casa de Criadores com o desfile Sabadão Kenganejo. A apresentação foi uma homenagem à Dona Ondina, avó de uma das estilistas que comandam a etiqueta. Na trilha sonora, desenvolvida por Tuna Tudo, o sertanejo com doses eletrônicas dominou o ambiente.
Sob direção criativa de Lívia Barros e Janaina Azevedo, a marca apostou na pegada westerncom pitada despojada e descontraída. Botas de cowboy, minissaias e chapéus estão no compilado. Recortes, transparência e brilho incrementam os looks.
Nalimo
Com a coleção Vozes e Rezos, a Namilo levou resistência para a Casa de Criadores. A marca indígena autoral é liderada, feita, pensada e produzida por mulheres. Nos visuais, cosmologias indígenas, tons terrosos e alfaiataria com franjas.
Com criações das estilistas Dayana Molina e Gabrieli Lecoña, a etiqueta levanta a bandeira da valorização dos povos originários e da demarcação de terras. “Descolonizemos a nossa mente, nossos afetos, nossas histórias, nossas memórias, nossa existência e toda a sociedade. Não existirá futuro sem decolonialidades”, manifestou-se a etiqueta em comunicado.
Alexei
Com a complexidade da libido como ponto de partida, a Alexei apresentou uma coleção que aborda a paixão e a força transformadora do desejo. “A interconexão dos temas e do tempo — Eros, fetiche, feitiço, origem, tradição, arcaico e vernáculo — cria uma narrativa da sexualidade humana e do sopro da vida”, definiu a label em comunicado.
Entre as inspirações citadas pelo designer Leonardo Alexei, estão Portinari, Luiz Fernando Carvalho, Sofia Coppola, Kurt Cobain, Courtney Love. O resultado são peças e composições nada óbvias, com direito a sobreposições em meio ao mix de estampas e texturas. Destaque para adereços como véus, laços e flores em 3D.
Rober Dognani
Com o desfile batizado de O Outro Lado, Rober Dognani celebrou 20 anos de presença na Casa de Criadores. Mais do que isso: homenageou a própria mãe, Iracema Dognani, que morreu há cerca de dois meses. A venda das roupas será revertida para grupo de apoio a portadores de câncer de Fartura, cidade no interior de São Paulo.
Com ar dramático, emocionante e performático, a passarela recebeu looks principalmente de látex. Recortes, véus, brilho e surrealismo também marcaram a apresentação, com direito a máscaras que causam efeito de dualidade. Para completar os visuais, chapéus criados por Davi Ramos.
Jacobina
A marca goiana Jacobina, de Raphael Aquino, também se juntou ao time da 52ª Casa de Criadores, por meio do Projeto Lab. Pela primeira vez no evento, a etiqueta apresentou a coleção Pedro, em homenagem a um sobrinho do estilista.
Símbolos religiosos, como o presépio e a Sagrada Família, foram pontos de partida para o trabalho. Entre os visuais, chamaram atenção estampas coloridas e elementos tridimensionais lúdicos. As peças são fruto de uma colaboração com o artista visual e professor Emilliano Freitas, que aborda nas obras temas como carga familiar e memórias da infância.
“As inspirações estão impregnadas em locais de referência do garoto criado em cidade pequena, exposto aos festejos populares, ritualísticos e banhado de religiosidade; desse contexto, brotam as ideias para a coleção, que tem como fio condutor a folia de reis, o caminho dos persas e seus costumes, passando pelo forte emblema da sagrada família, que vem sendo desconstruída de forma suave e poética, na sociedade e na cultura, e culminando nas alusões aos três reis magos — tidos como homens eruditos, do oriente, seguindo uma estrela guia pelas paisagens desérticas para dar as boas vindas ao Cristo anunciado e já perseguido, com seus auspiciosos presentes”, contou Aquino em nota.
Projeto Mottainai
Fundada por Pablo Monaquezi, a marca Projeto Mottainai gerou reflexão na 52ª Casa de Criadores. Batizada de Elos, a coleção revelada surgiu a partir do questionamento “como será o dia depois de amanhã?”. “Um mundo devastado pela guerra, pelo aquecimento global, desmatamento, novos vírus e a luta pela sobrevivência e pelo poder”, sugeriu a label em comunicado sobre o conceito do show.
Dividido em três atos, o desfile teve a presença da cantora e drag queen Pabllo Vittar no casting. Intitulado A Marcha da Sobrevivência, o primeiro capítulo retrata um mundo pós-apocalíptico, dominado pelo negacionismo e moralismo. Na passarela, peças com referências militares e de faroeste.
Já a segunda parte, nomeada Resistência e Extinção, representa a oposição ao poder estabelecido, segundo a etiqueta. No último ato, chamado Novos Seres, o designer transmite transformação, inovação e evolução da espécie, com looks imersos no futurismo.
Oficina de Criadores
Uma novidade desta edição foi a Oficina de Criadores. Em parceria com o ateliê de criação ATM LAB e o Centro Cultural São Paulo, e com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo (SMC), a iniciativa ofereceu qualificação profissional gratuita em moda com foco na sustentabilidade. Todos os desfile da 52ª Casa de Criadores estão disponíveis no YouTube.
Com informações de Metrópolis.